sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Crenças

Acredito em Deus (aquele cristão), bem como acredito em santos, espíritos, magia (seja ela positiva ou negativa), orixás e nos deuses de religiões politeístas. Repare, acredito na força das energias superiores. Mas tenho uma aversão, sincera, à religiões. Principalmente quando elas são impostas ou, simplesmente, convenientes.

Recentemente passei por uma experiência no qual fui obrigada a me submeter à benção de um sacerdote. Não tinha a menor vontade, e julgava que o momento era desnecessário em minha vida. Mas praticamente fui excomungada por expressar minha opinião. Na tentativa de evitar conflitos maiores, fui. Como esperado, não senti absolutamente nada.

Para mim, todas as crenças são válidas, desde que sejam sinceras. De que adianta, ir à igreja para agradar avós, pais ou a sociedade? De que adianta ajoelhar no chão ou clamar com centenas de pessoas por Deus, se o momento não traz paz? Está em verdadeiro contato com o Ser Superior aquele que vai ao templo aos domingos, mas agride a esposa quando chega em casa? Se Deus é onipresente, porque preciso entrar na igreja para que ele me ouça?


Uma coisa há anos me incomoda em relação à religão (considerando que tenho apenas 21 anos, esse incômodo teve início já na infâcia): as pessoas são hipócritas. Vejo, na verdade, que não é a religião que me incomoda, mas as pessoas que a colocam em prática.

Minha religião é o respeito ao próximo (sempre que minha condição humana permite), pelo simples motivo de que as pessoas merecem respeito, e não porque posso ir para o inferno se não o fizer. Minha crença está em meus momentos com meus livros e cadernos, em fotografar, em olhar o céu e o mar, não há nada que me traga mais paz. Em horas assim, acredito que o Deus olha para e por mim. Se nesses momentos sinto a presença do Ser Superior, porque, então, preciso que um sacerdote me abençõe? Se ele não tocar minha mão e rezar/orar comigo, significa que Deus me ignora ou me pune?

Acredito, muito sinceramente, que cada um poderia viver um pouco mais sua vida e sua crença e parar de tentar impor à vida das pessoas o que todo mundo faz mas que para ela não faz falta. Sou contra o "é porque é" ou "você tem que fazer isso. Se não fizer, é mau". Respeito, e só.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Morte a beira mar

Quão importante e imponente é a morte? A quem ela realmente afeta?

Numa manhã de sábadom, um homem se afoga no mar e morre. Pálido, um rapaz de 24 anos ajuda a retirar o corpo da água. Nos bolsos do homem, nenhum documento. A única identificação fica por conta da pele descascada que denúncia que, provavelmente, é um turista.

Os banhistas passam, alguns curiosos se aproximam. A brisa marinha já carrega o boato de que alguém morreu no mar. A aproximação das pessoas é cautelosa, rostos sérios. "E se for alguém que eu conheço?", é o pensamento inicial. Um desconhecido, e a face ganha outro semblante, chegando a beira da alegria. O homem continua morto, sem ninguém para chorar sua morte.

Acho engraçado a tranquilidade com que as pessoas têm em não se importar nenhum pouco com a morte de desconhecidos. Chega à beira do descaso.

Por seis horas o homem permaneceu estendido nas areias da praia. Lençol branco cobrindo a pessoa que, por ora, não tem nome nem história. Na praia, um sábado qualquer: areia, sol, mar, petiscos e cerveja.

Uma garota se aproxima de um vendedor ambulante. Pergunta se é verdade que alguém se afogou e se o homem tem notícias da vítima. Com a sutileza de um cavalo manco, o homem responde "Ué, tenho sim. O corpo tá estendido bem ali na frente". O rosto da menina muda, ela sai em disparada. Não sei dizer quem era a garota ou o homem, mas dez minutos depois, ele é retirado da praia. Talvez para que alguém chore sua morte, se importe com isso e dê um nome à lápide.

Passei o dia pensando nisso, assutada. E se fosse alguém da minha família? A possível dor de quem esperava que aquele homem voltasse de sua caminhada matinal me tocou. E me incomodou durante as seis horas que ele permaneceu ali, esquecido, ignorado, inexistente. Apenas um lençol branco atrapalhando a paisagem da praia.

Não, não devemos chorar e nos enlutar por todas as mortes do mundo. Se fosse assim, viveríamos chorando. Mas é estranho olhar para a pessoa sem vida e simplesmente não sentir nada. Me assuta, tenho medo que não chorem por mim.



.Para mim é fácil falar da morte. Estranho ou não, um tema que me cativa.