segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Morte a beira mar

Quão importante e imponente é a morte? A quem ela realmente afeta?

Numa manhã de sábadom, um homem se afoga no mar e morre. Pálido, um rapaz de 24 anos ajuda a retirar o corpo da água. Nos bolsos do homem, nenhum documento. A única identificação fica por conta da pele descascada que denúncia que, provavelmente, é um turista.

Os banhistas passam, alguns curiosos se aproximam. A brisa marinha já carrega o boato de que alguém morreu no mar. A aproximação das pessoas é cautelosa, rostos sérios. "E se for alguém que eu conheço?", é o pensamento inicial. Um desconhecido, e a face ganha outro semblante, chegando a beira da alegria. O homem continua morto, sem ninguém para chorar sua morte.

Acho engraçado a tranquilidade com que as pessoas têm em não se importar nenhum pouco com a morte de desconhecidos. Chega à beira do descaso.

Por seis horas o homem permaneceu estendido nas areias da praia. Lençol branco cobrindo a pessoa que, por ora, não tem nome nem história. Na praia, um sábado qualquer: areia, sol, mar, petiscos e cerveja.

Uma garota se aproxima de um vendedor ambulante. Pergunta se é verdade que alguém se afogou e se o homem tem notícias da vítima. Com a sutileza de um cavalo manco, o homem responde "Ué, tenho sim. O corpo tá estendido bem ali na frente". O rosto da menina muda, ela sai em disparada. Não sei dizer quem era a garota ou o homem, mas dez minutos depois, ele é retirado da praia. Talvez para que alguém chore sua morte, se importe com isso e dê um nome à lápide.

Passei o dia pensando nisso, assutada. E se fosse alguém da minha família? A possível dor de quem esperava que aquele homem voltasse de sua caminhada matinal me tocou. E me incomodou durante as seis horas que ele permaneceu ali, esquecido, ignorado, inexistente. Apenas um lençol branco atrapalhando a paisagem da praia.

Não, não devemos chorar e nos enlutar por todas as mortes do mundo. Se fosse assim, viveríamos chorando. Mas é estranho olhar para a pessoa sem vida e simplesmente não sentir nada. Me assuta, tenho medo que não chorem por mim.



.Para mim é fácil falar da morte. Estranho ou não, um tema que me cativa.

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